Maior prédio da América Latina em Santa Tereza é sinal de benefícios ou transtornos? A pergunta está na cabeça de muita gente, depois de diversas reportagens terem saído na imprensa sobre a construção deste um mega empreendimento no bairro. O projeto prevê a construção de uma torre de 85 andares, a uma altura de 350 metros, arena multiuso para 40 mil pessoas e área de lazer, ao longo do Bulevar Arrudas, englobando as “Torres gêmeas”, o terreno da Vila Dias e o campo de futebol.

 Como não houve um pronunciamento oficial da prefeitura e nem do escritório de engenharia e arquitetura FarKasVölGyi,  responsável pelo projeto, os moradores do bairro estão curiosos e apreensivos sobre os  impactos negativos que isso traria para Santa Tereza, principalmente sobre os boatos de desapropriação da comunidade da Vila Dias.

 Para esclarecer as dúvidas e encontrar respostas, o Santa Tereza Tem ouviu o arquiteto autor e responsável pelo projeto,Bernardo FarKasVölGyi, que garantiu que quem decidirá se aceita ou não o empreendimento são os moradores do bairro.  Confira na entrevista abaixo.

 STT: Como surgiu a história de empreendimento?

BF: Fui procurado, há dois anos pela prefeitura de Belo Horizonte (PBH) com a proposta de projetar e construir uma arena esportiva na área onde há um campo de futebol, pertencente à PBH.  Entretanto, eu teria de procurar a iniciativa privada para levantar recursos para a construção.  Trabalhei o mercado e percebi que apenas com a proposta de uma arena esportiva teria dificuldade para levantar recursos privados.  Pela dimensão do terreno propus uma ocupação mais ampla, onde caberia a arena esportiva e facilitaria a parceria com a iniciativa privada.  Daí esse empreendimento maior, onde eu propus a torre a mais alta da América  Latina como um marco para BH e uma atração de turismo arquitetônico.

 STT: Quem definiu que este é o melhor local para esta obra?

BF: Como arquiteto e urbanista eu escolhi o local, porque é amplo, tem boa infraestrutura urbana, está perto do centro da cidade e a mobilidade urbana é razoável , com muitos pontos de ônibus e o metrô. Em termos de topografia da cidade a quota altimétrica  do terreno  é bem baixo e mesmo colocando uma torre com 350m de altura eu não vou interferir no skyline da cidade.

 STT: Mesmo o terreno sendo baixo,  a torre vai interferir na paisagem, por exemplo, a vista da igreja?

BF: A torre, apesar de estar a mais de mil metros da igreja, vai aparecer acima da dela, como aconteceria com qualquer prédio de 20 ou 30 andares.  Sabemos da interferência e queremos tratar isto da melhor forma possível dentro do projeto.

 STT: O local pretendido pelo empreendimento está em Santa Tereza, que é uma Área de Diretrizes Especiais (ADE). Como você pretende lidar com as restrições da ADE?

BF: Sabemos da ADE e jamais proporia o projeto no meio do bairro. Entretanto, o local fica em frente à Avenida dos Andradas, uma via de classificação arterial, que mesmo na ADE tem cunho comercial. Além do mais está sendo prevista uma Operação Urbana Consorciada (OUC)* com regras distintas para a Avenida dos Andradas, que começará no centro e vai até na Silviano Brandão. E dentro dessas novas regras o empreendimento pode ser viável.  As negociações com a PBH estão incipientes, já que a prefeitura não pode dar uma decisão se podemos ou não construir o projeto, porque a OUC está prevista para 2013 e ainda não há uma lei que nos permita a construção.  A PBH recebeu o projeto e disse que acha interessante. Estamos aguardando e se tudo der certo, calculamos um ano para licenciar o projeto, iniciar as obras em 2014 e concluir em 2019.

 

 

 

 

                    Previsão de como ficará a obra. Fonte: www.abravidro.org.br                                                       Imagem de satélite do Google Maps.

    Área do Santa Tereza no Google Maps não inclui toda a área da ADE.

 STT: Alguma construtora já se interessou pelo projeto?

BF: Temos parceria com PHV Engenharia apenas para a construção da torre. A PHV está tentando adquirir os terrenos particulares para que possamos erguer a torre. Para o restante do projeto ainda não.

 STT: Se a PBH aprovar o projeto, haverá desapropriação de imóveis das vilas Dias e São Vicente?

BF: Um empreendimento desse porte não pode ser feito para depois ser comunicado à comunidade. Por isso queremos mostrar nosso projeto e ouvir os moradores.  Saiu a proposta da OUC, vamos chamar a comunidade para discutir o projeto juntos.  A área de entretenimento ficaria onde é a Vila Dias. Ainda não conversamos com os moradores, porque o que temos é uma ideia, que depende das regras da OUC. Além disso, para remover a vila, é só se pudermos convencer os moradores a saírem de lá para um lugar melhor. Essa possibilidade só vai existir se a comunidade entender que é razoável. Se os moradores disserem não, não vamos fazer.

 STT: Se for aprovado o projeto pela PBH, quais as medidas serão adotadas para reduzir o impacto no trânsito local?

BF: Sobre isso é prematuro responder. Tenho a ideia de fazer um elevado em frente à Câmara Municipal até o bairro, mas vamos buscar os melhores especialistas do mundo em mobilidade urbana para estudar as soluções. Contrataremos bons profissionais e teremos sempre alguém da comunidade participando.  A PHV tem a mesma visão que eu tenho: não é comunicar o projeto, mas chamar a comunidade para pensar desde o inicio.  Se não for desse jeito não tem como desenvolver o projeto.

 *A Operação Urbana Consorciada- OUC é o conjunto de intervenções e medidas que visam transformações urbanísticas estruturais e ambientais e melhorias sociais.  É dirigida pela prefeitura e conta com a participação dos proprietários, moradores, usuários permanentes e investidores privados. Nas OUC podem ser previstos a modificação de índices e características de parcelamento, uso e ocupação do solo do local, as normas de edificações vigentes e mesmo a regularização de construções executadas em desacordo com a legislação vigente.